Em período de seca dos rios, ponta de areia na praia pode ter até 2 km.
Lugar, que carrega aspecto natural, é considerado paradisíaco por turistas.
Na praia do Cururu, ponta de areia divide lado mais agitado do mais calmo, do rio Tapajós.
(Foto: Luana Leão/G1)
Localizada na margem direita do Rio Tapajós, em Alter do Chão - praia que ficou famosa internacionalmente após ter sido eleita pelo jornal britânico “The Guardian” como a mais bonita do Brasil – a praia do Cururu tem atraído turistas que buscam tranquilidade. O lugar não tem infraestrutura turística, nem ambulantes ou quiosques por perto.
A bióloga Aline Barbosa foi até a praia do Cururu
para fotografar o pôr-do-sol. (Foto: Luana Leão/G1)
“Esse conjunto que reúne água doce, esse rio que se perde na imensidão, essa areia branca que é só uma faixa que invade o rio, isso é lindo, muito peculiar. O fato de não ter muita civilização por perto foi o que mais me chamou atenção, gosto de lugares assim, naturais”, destacou a bióloga Aline Barbosa, de 27 anos.
Ela disse ao G1 que já viajou por várias praias do país, contemplou pores do sol em diferentes cidades, mas garante que o que viu na praia do Cururu está em primeiro lugar na sua lista pessoal dos mais belos. "Gosto de apreciar e, particularmente, tenho experiência com pôr-do-sol por vários lugares que passei, sempre faço questão de ver, mas esse aqui está sensacional, para mim está sendo o melhor", contou Aline.
Virgínia (branco) conheceu a praia do Cururu com as
amigas cariocas. (Foto: Luana Leão/G1)
A médica carioca, Virginia Peixoto, veio ao Pará a trabalho e, no último final de semana, aproveitou para conhecer a praia do Cururu. “A gente tinha muita curiosidade de conhecer, pois pessoas disseram que era uma praia incrível numa região de rio, que valia a pena conhecer, porque transmitia essa paz, essa tranquilidade. Eu achava que era uma ‘prainha’, bem pequena, não imaginava que era um lugar imenso desse, cheio de lagoas naturais, muito bonito", ressaltou.
Para Vírginia, a calmaria do rio foi o que mais agradou na visita à praia do Cururu. "O banho é muito gostoso, sem ondas e a água do rio é morna, bem calma, assim como o lugar”, completou.
Como chegar
A vila de Alter do Chão fica a 30 minutos de carro da cidade de Santarém, no oeste do Pará. De lá, o acesso à praia do Cururu é somente pelo rio. Embora os carros consigam chegar até a margem, uma lei do Código Municipal Ambiental de 2004 (Lei 17.894) proíbe o trânsito de veículos motorizados naquele perímetro.
O trajeto da vila balneária até a praia do Cururu é feito, pela maioria dos turistas, por lanchas e rabetas (pequena embarcação motorizada, comum na região). A viagem dura cerca de 25 minutos, saindo da ilha de Alter do Chão até a ponta da praia do Cururu. No pacote, os turistas já contratam o aluguel do veículo com um comandante. O preço muda de acordo com o tamanho da embarcação e a quantidade de passageiros. Viagens em lanchas que comportam até seis pessoas custam entre R$ 80 e R$ 100.
Comandante diz que movimento maior na praia
é em setembro. (Foto: Luana Leão/G1)
Segundo o comandante de uma lancha que faz esse percurso com turistas diariamente, em alguns meses do ano a movimentação na praia é bem maior. “Agora ainda tem bastante gente procurando, mas em setembro, quando é o Sairé, que é o festival dos botos, tem famílias grandes que vem para cá. Então eles preferem alugar um barco e ficam aqui uma manhã e uma tarde. Tem gente até que dorme aqui na ponta do Cururu, acampa aí na praia”, conta Sebastião Rego.
Ainda segundo o comandante, a procura é maior por turistas de outros estados. "Difícil eu trazer gente daqui da região, ou até mesmo do nosso Estado. O que tem, ultimamente, é muita gente de fora, do exterior", relata.
Área de Proteção Ambiental e capacitação
Por compor a Área de Proteção Ambiental (APA) de Alter do Chão, algumas atividades não são permitidas na praia do Cururu, como a fixação de embarcações por muito tempo. “Lá, as embarcações não podem ficar atracadas por muitas horas, não se pode fazer fogueiras, por exemplo”, cita a chefe de planejamento da Secretaria Municipal de Turismo, Neide Noronha.
Praia compõe a APA de Alter do Chão e é protegida
por Código Municipal Ambiental.
(Foto: José Rodrigues/TV Tapajós)
Uma das propostas da APA é ordenar a ocupação das terras e proteger a diversidade biológica, dos recursos hídricos e do patrimônio natural da região. "É esse aspecto natural que atrai os turistas, eles vão até Alter do Chão e quando procuram uma lancha para alugar, já pedem tranquilidade, sossego, e os barqueiros [comandantes das embarcações] indicam logo a praia do Cururu", destaca a chefe de planejamento.
Segundo Neide, o governo tem trabalhado para melhorar o atendimento ao turista. “A Semtur, através do selo, está trabalhando com condutores que fazem essa travessia. Os barqueiros estão recebendo treinamento. A princípio, eles tiveram a retirada da carteira náutica, a regularização das suas embarcações, tiveram curso de inglês e de capacitação”, afirma.
Ponta do Cururu
No verão amazônico, tempo em que as águas dos rios baixam, é possível caminhar por uma linha de areia com extensão de, aproximadamente, um quilômetro. Na troca de estação, essa faixa, mais conhecida como 'ponta do Cururu', costuma ficar acessível de três a quatro meses no ano. É em setembro, no auge da vazante, que os turistas podem visualizar melhor a ponta da praia (imagem ao lado). Quando a seca dos rios é rigorosa, a faixa de areia pode chegar até dois quilômetros.
Nesse período, não somente aos finais de semana, as lanchas ficam ancoradas na ponta da praia, justamente na faixa de areia. Com uma temperatura que varia de 28º a 34º, os banhistas costumam chegar no meio da tarde e aguardam, dentro d'água, o pôr-do-sol e os botos, que também aparecem sempre aos fins de tarde.
"A ponta do Cururu sempre está no roteiro dos turistas. Na cheia, ela fica submersa, mas enquanto estiver emersa, pode ser explorada turisticamente em vários momentos do dia, nao só na hora do pôr-do-sol. Cabe a cada um utilizar a sua criatividade na maneira de conduzir o turista até lá. De repente, pode fazer um passeio pelo Lago Verde até a ponta do Cururu, pode fazer um amanhecer na praia do Cururu, que deve ser maravilhoso", destaca a secretária de Turismo de Santarém, Irene Belo.
Pôr-do-sol na praia do Cururu é contemplado diariamente por turistas. (Foto: Celso Lobo)
Show de gaivotas
Outro atrativo da praia do Cururu é a ‘dança das gaivotas’. De uma ponta a outra, elas voam próximo aos banhistas em busca de alimento. “É fácil de ver elas saindo com um peixe no bico”, conta o comandante Rego.
De acordo com o biólogo do Instituto de Biodiversidade e Floresta, da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), professor Dr. Edson Lopes, há duas espécies de aves (na foto abaixo) que tiram um pouco o ar de tranquilidade da praia do Cururu: Phaetusa Simplex, conhecida popularmente como Trinta-Reis-Grande, e aves da espécie Rincops Niger, conhecidas como Talha-Mar. Ambas são aves marinhas, mas costumeiramente podem ser encontradas em grandes rios, como o Tapajós.
Gaivotas dão show à parte na praia do Cururu. (Foto: Celso Lobo)
Segundo Lopes, essas aves se alimentam de pequenos peixes e outros organismos aquáticos, que capturam em voo, próximo a superfície. Também é comum as aves repousarem em bancos de areia.
“A presença delas na ponta do Cururu deve estar associada a estes dois fatores: presença de alimento e local de repouso. O local da foto é frequentado por estas espécies e isso atesta a importância da manutenção deste lugar, para garantir a preservação dessas e de outras espécies de aves que lá frequentam”, concluiu o professor.
Fonte: G1 SANTARÉM